Eu não pretendia fazer minha segunda postagem tão cedo, até porque como primeira resenha postada eu iria colocar uma resenhar do livro "Lolita", de Nabokov. Enfim, lembrei-me que tinha essa resenha salva de um trabalho da faculdade, para a disciplina de História do Ceará. Não fiz essa resenha só, fiz com minha colega de curso (Bruna), então o crédito é para nós duas. Mas agora, vamos a resenha. É meio grande, mas espero que gostem.

A normalista - Adolfo Caminha

  O romance A normalista se passa em Fortaleza nos anos 80. A história se desenrola na rua do Trilho, que hoje em dia é a Avenida Tristão Gonçalves. A obra narra à história de Maria do Carmo, uma retirante, que veio juntamente com seus pais para Fortaleza durante o período da seca de 1877, umas das maiores que houve no Estado do Ceará. Maria do Carmo chegou aqui ainda pequena e aos cuidados dos pais, mas tão logo sua mãe morreu, seu pai partiu para a Amazônia atrás de emprego, então ela passou a ser cuidada por seu padrinho, João da Mata.
  A normalista é dividida em parágrafos medianos e de fácil compreensão, apesar da linguagem ser uma linguagem mais culta e que se retém em detalhes. A obra é divida em capítulos, onde cada um recebe um nome distinto de acordo com o tema a ser tratado, fazendo-nos sempre imaginar como o tema será abordado pelo autor. Na íntegra, a obra é composta por 274 páginas, mas essa numeração podendo aumentar ou diminuir de acordo com a edição.
  João da Mata era “amigado” com D. Terezinha, e esta também deveria auxiliá-lo na educação de Maria do Carmo. A menina foi mandada para a escola das Irmãs de caridade, onde passou grande parte da sua vida, até voltar para a casa do amanuense, como era conhecido o João da Mata, já moça feita.
 Neste momento é que começa o desenrolar da história, quando João da Mata começa a sentir desejo por sua afilhada, e a Maria do Carmo, inocentemente, entregava-se aos desejos dele. Mas isso só durou até que a menina conheceu Zuza, filho de um coronel e estudante do curso de Direito. Apesar de esse romance ser mal visto aos olhos de todos, eles encontravam-se escondidos e trocavam cartas nesses encontros. João da Mata começa a sentir ciúmes do garoto e a difamá-lo e não deixar que ele colocasse os pés em sua casa nem se encontrasse com Maria do Carmo.
  Durante esse período Maria do Carmo passa a tratar bem João da Mata, para que pudesse ter chances de voltar a ver Zuza sem ser escondida, e João da Mata, aproveitando-se dessa paixão da garota, acaba por abusar da menina e engravidá-la, depois a levando para a Aldeiota para que ela tivesse o filho e ninguém ficasse sabendo. Porém a criança acaba vindo a falecer após levar uma queda durante o parto, e Maria do Carmo fica desolada, mas pode retornar a sua antiga vida. Zuza já havia ido embora de Fortaleza nesse período, e a garota acaba se casando com um conhecido dela que sempre a estimou muito. João da Mata nunca mais tentou nada com a menina após conseguir o que queria.
  Com essa obra podemos fazer uma oposição entre a época em que ela foi escrita (1893) e o ano atual de 2012. Muitas coisas mudarão, mas outras permaneceram as mesmas, e entre essas que permaneceram podemos falar do abuso sexual ocasionado por alguém bem próximo a menina. Quando João da Mata abusou de Maria do Carmo, não podemos falar disso como um incesto já que eles não eram parentes de sangue, Adolfo Caminha apenas retratou o que poderia ocorrer em muitas famílias da época, e que ocorre muitas famílias ainda hoje, só que hoje existe o agravante que muitas vezes a pessoa que pratica esse ato é um pai ou tio da criança. Outra crítica vista é quanto ao tratamento a mulher, que apenas deve perder sua virgindade após o casamento, e se isso ocorrer antes desse evento, ela será malvista aos olhos da sociedade e indesejada. O mesmo ocorre quanto as traições femininas no texto, que apesar de todos saberem que ocorre, ninguém comenta a ninguém.
  A obra é bastante agradável, pelo motivo já citado de sua fácil compreensão, e não deixa a desejar em nenhum aspecto. Os parágrafos bem distribuídos auxiliam no entendimento e numa leitura rápida, porém compreendida. E como se isso não fosse o suficiente, o texto é realmente divertido e se é lido de uma forma atenta, pode ser visto muitas críticas a sociedade da época.
Esse texto se tornaria bastante útil para pessoas que buscassem compreender os movimentos que ocorrem na sociedade, que podem estar ocultos mas que geralmente o percebemos e apenas não analisamos. Pessoas que queiram estudar a sociedade cearense também devem ler esse livro, já que ele se detém tanto a sociedade da década de 80 e seus luxos e desprazeres. Também é bom ler A normalista para diversão, mas dessa forma nunca perceberá o que há por baixo da história.
  Adolfo Caminha nasceu na cidade de Aracati, interior do Ceará, no dia 29 de maio de 1867. Ainda muito novo sofreu com as consequências de uma das maiores secas que ocorreram no Estado, tinha apenas 10 anos de idade. E no ano seguinte, perdeu sua mãe, Maria Firmina.
  Após a morte de sua mãe, Adolfo foi mandado para a capital cearense, para receber os cuidados dos seus parentes que lá residiam. Apenas em Fortaleza começou a receber seus primeiros ensinamentos. Mas ali não se tornou sua moradia por muito tempo.
  Aos treze anos foi mandado para o Rio de Janeiro, pois seu tio-avô o chamou para ocupar-se de sua educação e dos encargos dela. Foi matriculado na Escola de “Marinha”, com notas na média, nada de excepcional. E na escola foi que começou a se desenhar a sua vocação para a carreira de escritor. Existia na escola uma agremiação cultural chamada Fênix Literária, e Adolfo começou a escrever para ele. Também estampou seus textos na Revista Escola de Marinha, onde publicou vários poemas.
  Com 18 anos completou seu curso, passando então para a guarda-marinha, e nesse mesmo ano do término de seu curso ele publicou na Gazeta de Notícias um conto onde havia a condenação ao castigo da chibata imposto aos oficiais.
  Adolfo também participou de um movimento conhecido como Padaria Espiritual, em Fortaleza, apesar de ser pelo tempo de apenas um ano essa participação. 
 Nela, ele publicava textos no jornal “O pão”, com o codinome de Félix Guanabarina, que publicava os textos na seção Sabatina.
  Apenas anos após sua morte foi que Adolfo foi reconhecido como o grande escritor e crítico que realmente era chegando a ser convocado para a Academia Brasileira de Letras, mas não chegando a receber seu título, pois ele foi aceito quinze dias após a sua morte. No dia 1 de janeiro de 1897, Adolfo Caminha morria no Rio de Janeiro de tuberculose.
Outras obras de Adolfo Caminha foram: Voos Incertos (1886), Judite (1887), Lágrimas de um crente (1887), No país dos Ianques (1894), Bom Crioulo (1895), Cartas Literárias (1895) e Tentação (1896). As suas duas últimas obras ficaram inacabadas (“Ângelo” e “O emigrado”). 


Bonne nuit!


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